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Prefeito de Florianópolis usa assistência social como 'controle migratório' de pessoas sem emprego

Vídeo do prefeito de Florianópolis falando sobre controle em rodoviária repercute O prefeito de Florianópolis, Topázio Neto (PSD), divulgou um vídeo nas r...

Prefeito de Florianópolis usa assistência social como 'controle migratório' de pessoas sem emprego
Prefeito de Florianópolis usa assistência social como 'controle migratório' de pessoas sem emprego (Foto: Reprodução)

Vídeo do prefeito de Florianópolis falando sobre controle em rodoviária repercute O prefeito de Florianópolis, Topázio Neto (PSD), divulgou um vídeo nas redes sociais em que mostra um posto da Assistência Social na rodoviária como estratégia para conter a chegada de pessoas sem emprego e moradia à capital. Segundo ele, cerca de 500 pessoas já foram “devolvidas” às cidades de origem. A declaração gerou forte repercussão e levou a Defensoria Pública de Santa Catarina a instaurar um procedimento para apurar se a operação está impedindo o ingresso de pessoas em situação de vulnerabilidade e determinando seu retorno de forma irregular. ✅Clique e siga o canal do g1 SC no WhatsApp Nas redes sociais, o chefe do Executivo declarou: "Garantir o controle de quem chega" e "Se chegou sem emprego e local para morar, a gente dá a passagem de volta". As falas repercutiram entre usuários nas redes sociais e motivaram manifestação de órgãos, como o Ministério Público. Em entrevista à NSC TV nesta quinta-feira (6), Topázio usou outras palavras para explicar como funciona o serviço e afirmou que ninguém é obrigado a deixar a cidade. Segundo ele, o objetivo é oferecer orientação, e não impor decisões. “Trata-se de convencimento. Ninguém é obrigado a fazer nada contra a sua vontade. O ser humano tem direito de ir e vir. O que podemos fazer é convencer, mostrar a ele que o melhor caminho não é ficar na cidade onde ele não tenha nenhum vínculo, nenhum laço, não tenha nenhuma oportunidade e muitas vezes o melhor é ele voltar para sua família e sua cidade de origem”, declarou. Entenda polêmica prefeitura de Florianópolis sobre abordagens a migrantes Após a repercussão, a Prefeitura de Florianópolis se manifestou por nota e disse que mantém o serviço feito pela Secretaria de Assistência Social para "dar suporte a todas as pessoas que chegam na cidade e precisam de alguma orientação". Defensoria Pública declarou em nota que além da abertura do procedimento, não existe controle de limite entre municípios e ninguém pode ser impedido de circular pelo território nacional por não ter emprego ou moradia. "A remoção ou o transporte compulsório de pessoas em situação de rua ou vulnerabilidade social é vedado por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e por legislações municipais que regulamentam o benefício eventual de passagem - que só pode ser concedido quando há vontade expressa da pessoa em retornar e comprovação de vínculo familiar ou comunitário na cidade de destino", diz o órgão (confira a nota completa mais abaixo). Topázio Neto em vídeo que fala sobre ações contra quem chega na rodoviária Reprodução/Instagram Vídeo nas redes sociais Topázio publicou um vídeo nas próprias redes em que fala sobre a ação feita pela assistência social na rodoviária. Ele não diz se a ação é feita em outros pontos de entrada na cidade, como o aeroporto e estradas. "Para garantir um controle de quem chega, instalamos aqui um posto avançado da nossa assistência social. Se chegou sem emprego e local para morar, a gente dá a passagem de volta", disse o prefeito no vídeo. Ainda na publicação, o prefeito apresenta o caso de um homem que teria sido enviado de uma cidade catarinense e que não tinha nenhum vínculo com Florianópolis. Sem o identificar e nem revelar o município de origem, falou que ele foi enviado de volta após contato com um familiar. "Mais de 500 pessoas já foram devolvidas pelo trabalho dessa equipe e devemos reforçar ainda mais no verão", disse o prefeito no vídeo, reforçando que o objetivo é "manter a ordem e as regras". "Não podemos impedir ninguém de tentar uma vida melhor em Florianópolis, mas precisamos manter a ordem e as regras. Quem aqui desembarca deve respeitar as nossas regras e a nossa cultura. Simples assim". Repercussão Ainda nota, a DPE-SC diz mostrar preocupação com "o discurso e a forma de abordagem adotados, que passam a ideia de que determinadas pessoas não são bem-vindas na cidade ou estão sendo identificadas e 'devolvidas' com base em critérios discriminatórios". “O vídeo divulgado pela prefeitura traz um discurso de estigmatização e exclusão, ao dar a entender que pessoas pobres não podem permanecer na cidade. Além de ferir a dignidade humana, isso pode representar uma violação ao direito fundamental de ir, vir e permanecer, garantido pela Constituição”, disse a defensora pública Ana Paula Fão Fischer, coordenadora do Núcleo de Cidadania, Direitos Humanos e Ações Coletivas da Defensoria Pública do Estado. O Ministério Público de Santa Catarina também se manifestou em relação à postagem. "O vídeo chegou ao conhecimento do MPSC e será encaminhado às Promotorias de Justiça com atribuição na área da cidadania para ciência e adoção das providências que entenderem cabíveis". O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em Santa Catarina (OAB/SC), Prudente José Silveira Mello, criticou a medida e segundo ele, a ação “viola frontalmente a Constituição Federal, especialmente o artigo 5º, inciso 15, que garante o direito de locomoção em todo o território nacional". Mello também afirmou que a medida fere a dignidade da pessoa humana e o princípio da igualdade, além de contrariar tratados internacionais como a Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Pacto de San José da Costa Rica. “Essa medida, prefeito, excede a competência municipal e pode configurar abuso de poder e violação violenta de direitos humanos. Simples assim, prefeito”, declarou. Novo vídeo Após a repercussão, o prefeito de Florianópolis publicou outro vídeo nas redes sociais mantendo as medidas de controle. "Algumas pessoas que desconhecem a realidade da cidade e falando que vamos fazer controle migratório. O que a gente não quer é ser depósito de pessoas em situação de rua. Se alguma cidade mandar para cá, nós vamos impedir sim", reitera. Também disse que "Se a pessoa chega aqui sem saber onde vai dormir, sem qualquer plano de vida, é óbvio que foi despachada de algum lugar". Por fim, destacou que os migrantes são mandados às cidades de origem apenas após contato com algum parente. Initial plugin text O que diz a Defensoria Pública de Santa Catarina O que diz a Defensoria Pública de Santa Catarina Veja abaixo a nota completa da Defensoria Pública de Santa Catarina. Defensoria Pública acompanha atuação da assistência social na rodoviária de Florianópolis A Defensoria Pública do Estado de Santa Catarina, por meio do Núcleo de Cidadania, Direitos Humanos e Ações Coletivas (NUCIDH), instaurou procedimento para apurar medidas que estariam impedindo o ingresso de pessoas em situação de vulnerabilidade em Florianópolis e determinando seu retorno às cidades de origem. A iniciativa ocorre diante da divulgação de que mais de 500 pessoas teriam sido “devolvidas” pela Prefeitura da capital. Para a Defensoria Pública, é essencial que o poder público mantenha serviços socioassistenciais acessíveis e acolhedores para orientar e proteger quem chega ao município em busca de melhores condições de vida. Esses serviços devem existir para oferecer apoio e encaminhamentos adequados, garantindo que ninguém fique desamparado. O que causa preocupação, no entanto, é o discurso e a forma de abordagem adotados, que passam a ideia de que determinadas pessoas não são bem-vindas na cidade ou estão sendo identificadas e “devolvidas” com base em critérios discriminatórios. “O vídeo divulgado pela Prefeitura traz um discurso de estigmatização e exclusão, ao dar a entender que pessoas pobres não podem permanecer na cidade. Além de ferir a dignidade humana, isso pode representar uma violação ao direito fundamental de ir, vir e permanecer, garantido pela Constituição”, destaca a defensora pública Ana Paula Fão Fischer, coordenadora do NUCIDH. A Defensoria lembra ainda que não existe qualquer controle de fronteira entre municípios e que ninguém pode ser impedido de circular pelo território nacional por não ter emprego ou moradia. A remoção ou o transporte compulsório de pessoas em situação de rua ou vulnerabilidade social é vedado por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e por legislações municipais que regulamentam o benefício eventual de passagem - que só pode ser concedido quando há vontade expressa da pessoa em retornar e comprovação de vínculo familiar ou comunitário na cidade de destino. Diante da gravidade dos fatos, a Defensoria Pública informa que irá acompanhar e apurar a situação, a fim de garantir que nenhum direito fundamental seja violado e que a atuação da assistência social em Florianópolis ocorra dentro dos princípios de dignidade, acolhimento e não discriminação que devem nortear as políticas públicas. O que diz a Prefeitura de Florianópolis Veja abaixo a resposta da prefeitura à repercussão. A Prefeitura de Florianópolis mantém um serviço de assistência social na rodoviária municipal para dar suporte a todas as pessoas que chegam na cidade e precisam de alguma orientação. Quando identificamos que essas pessoas chegam sem ter um contato de trabalho ou família, sem saber o que fazer e identificamos que foram enviadas a cidade por outros municípios, buscamos entender os motivos e enviamos de volta para a cidade de origem. 

É importante explicar que a assistência social sempre entra em contato com a cidade de origem e/ou familiares para dar o encaminhamento correto. O que diz o MDS "O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) repudia qualquer política ou prática discriminatória contra a população em situação de rua ou qualquer outro público em situação de vulnerabilidade. O MDS está em contato com o Conselho Municipal de Assistência Social para acompanhar o caso. Vale destacar que o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) foram acionados por representantes locais, e as autoridades competentes já adotaram as providências necessárias para assegurar o respeito aos direitos e à dignidade dessas pessoas. Atenciosamente, Assessoria de Comunicação Social" VÍDEOS: mais assistidos do g1 SC nos últimos 7 dias

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